Estante Ceará é um projeto de edição, impressão e lançamento de títulos inéditos oriundos da produção acadêmica das universidades cearenses. Em 2018, foram publicados dois livros e em 2021, o Projeto Estante Ceará, tornou público edital para a publicação de 12 títulos inéditos que versem sobre a cidade de Fortaleza, Ceará, compreendendo a sua dimensão física e humana, seja material ou imaterial.
Os trabalhos foram lançados em 2023, oriundos de pesquisas realizadas por investigadores de universidades – públicas ou privadas – que versem sobre temáticas relacionadas à cidade de Fortaleza nas áreas de conhecimento: Educação, Saúde, História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Economia, Arquitetura, Cultura, Turismo, Meio Ambiente, Comunicação e Publicidade.
Este livro tem como objetivo compreender como se constroem lideranças tidas como "carismáticas", no interior do catolicismo, e como elas mantêm sua autoridade no tempo por meio de mecanismos institucionais e burocráticos. Para isso, toma-se como caso a persona de Moysés de Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, que, a partir de sua centralidade, exerce uma considerável dominação sobre tal coletividade. Fundada na cidade de Fortaleza, no ano de 1982, a partir da ideia de construção de uma lanchonete que servisse como canal de "evangelização", a Comunidade, atualmente presente em mais de 30 países, apresenta-se como uma das maiores forças dentro do catolicismo carismático contemporâneo, figurando como a mais importante das "Novas Comunidades" católicas de origem brasileira, e uma das mais importantes em nível de catolicismo global. A centralidade na figura de seu fundador, persona carismática de quem, na crença do corpo comunitário, emana a "vocação" e o "carisma Shalom", embasam a problemática central desta publicação: que processos societários, no interior da Comunidade, produziram a excepcionalidade de seu fundador, Moysés Azevedo, e como tais processos acompanharam-se da produção de um lugar subalternizado, ou "menos excepcional", para outras lideranças internas? O conhecimento da formação histórica da Comunidade, a leitura de seus documentos e de materiais de formação interna, a observação participante em diversos eventos, a realização de entrevistas com membros, ex-membros e autoridades católicas, além de uma revisão bibliográfica acerca da problemática sociológica do "carisma" serviram como aportes teórico-metodológicos que guiaram a pesquisa. Ao final, ver-se-á o importante papel desempenhado por mecanismos burocráticos e racionais para produzir, legitimar e reproduzir laços sociais cridos como "carismáticos", pontuando a intrínseca relação entre carisma e estruturas racional-burocráticas.
A constituição e consolidação da centralidade do bairro Aldeota em Fortaleza, Ceará, envolvendo os fatores que contribuíram para sua formação é aqui apresentada por Beatriz Helena Nogueira Diógenes, num exercício de investigação sobre a dinâmica intraurbana da cidade. O livro examina e analisa as transformações relevantes ocorridas na estruturaçáo do espaço urbano do bairro. A autora trata de aspectos históricos relativos ao seu surgimento e evolução desde as décadas iniciais do século XX, assim como sua consolidação como bairro elegante, até meados da década de 1970. Em seguida, analisa o seu processo de desenvolvimento, ao se transformar em área residencial verticalizada e de localização de comércio e serviços oferecidos a uma elite abastada. Paralelamente, o estudo procura investigar as formas de inter-relação desse centro com o crescimento da cidade, com o objetivo de compreender e averiguar as mudanças provocadas na dinâmica urbana de Fortaleza, enfatizando as características próprias do bairro, que adquiriu forma particular de desenvolvimento e expansão.
O autor procura compreender as mudanças de usos da atual Praça Clóvis Beviláqua (antiga Praça de Pelotas e Praça da Bandeira), na cidade de Fortaleza (Ceará), entre 1888 e 1943, período em que esse espaço passou por incisivas alteraçóes. Faz um mapeamento dos usos da praça no final clo século XIX e mostra como se deram as alterações físicas e simbólicas no século seguinte, quando aquele logradouro passou a ser completamente inserido nas climenções urbanas da cidade, sendo escolhido como local de construções das caixas de água (reservatórios de abastecimento da cidade) e do prédio da Faculdade de Direito. Mostra ainda como o crescimento da cidade modificou as formas de lidar com os espaços públicos. O trabalho parte da perspectiva de que os espaços são construídos pelos seus sujeitos e ganham novos significados à medida que esses sujeitos recriam novos símbolos e referências para si. Como recurso, utiliza documentos de caráter variado: Almanaques, Códigos de Postura, Jornais, Décimas Urbanas, Crônicas, Fotografias, Guia da Cidade, Relatórios dos Presidentes clo Estado e Plantas urbanísticas.
A partir de cinco artistas urbanos da cidade de Fortaleza — Narcélio Grud, Emerson Tubarão, Gleison Luz, Leandro Alves e Rafael Limaverde — Alessandra Oliveira Araújo analisa como a produçáo de graffitis pelas ruas da cidade aparece como elemento biográfico em suas narrativas e como suas produções podem transformar os espaços ao serem incorporadas à paisagem urbana, compondo a ideia de "biograficidade". A autora desenvolve, ao longo do livro, a ideia de que a arte urbana assume uma forma de escrita impressa na cidade e que essa mesma cidade incorpora essa escrita em sua narrativa, tal a relaçáo intrínseca entre a experiência da arte urbana, o espaço urbano e a experiência sensorial dos sujeitos que habitam a cidade — posto que esses sujeitos estão em constante processo de mudança, afetando espacialmente a cidade e sendo eles mesmos transformados por essa mudança espacial.
A autora analisa os deslocamentos das mulheres trabalhadoras urbanas, moradoras da periferia, e usuárias da Linha de ônibus Bela Vista Lagoa (304), na cidade de Fortaleza/CE. Seu objetivo foi construir um perfil qualitativo das mulheres trabalhadoras da periferia urbana que utilizam a linha de ônibus 304; apreender o cotidiano de deslocamentos dessas mulheres em seus percursos casa-trabalho; e investigar se as particularidades de gênero determinam violações de direitos em seus deslocamentos. A metodologia esteve ancorada em teorias, instrumentos, técnicas, criatividade e experiência da pesquisadora. Foi realizada pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa, de caráter qualitativo, teve uma amostra de oito mulheres. Os dados empíricos foram coletados por meio de observação participante, construção de diários de campo e entrevista semiestruturada. Na elaboração dos marcos teóricos, foi realizado um diálogo plural, tendo em vista as contribuições e as limitações das/os diversas/os autoras/es, em torno das seguintes categorias: mulheres, cidade, mobilidade urbana, transporte coletivo e violações de direitos. Diante de todo o percurso de investigação e análise, compreendemos que a mobilidade urbana tem problemáticas em relação aos deslocamentos das mulheres. As particularidades dos deslocamentos das mulheres e suas vivências no urbano se fundamentam em desigualdades de gênero (re)produzidas histórica e culturalmente em uma sociedade heteropatriarcal, racista e capitalista. As estruturas urbanas estáo entremeadas por desigualdades de gênero, raça e classe, que propiciam instabilidade às mulheres em seus deslocamentos, os quais são atravessados por uma série de violações de direitos que se reproduzem pelos vieses do medo e da insegurança. Todavia, apesar de toda a vulnerabilidade, essas mulheres seguem vivendo, ocupando os espaços e insistindo em exercer o direito de ir e vir, o que se evidencia em suas estratégias individuais e coletivas para se manterem seguras. Isso, por si só, é uma RESISTÊNCIA.
Fortaleza de Afetos: Imagens e Narrativas de uma Cidade Entre Muros procura discutir possibilidades que surgem a partir das relações com a cidade que ultrapassam sua materialidade. Lara Denise faz essa discussão embasada em uma prática etnográfica que, entre outras exigências, requer, principalmente, tempo compartilhado com interlocutores e outros "informantes", leituras e o registro em diário das situações vivenciadas. De deambulações e dos encontros com inscrições, riscos, frases ou palavras, gravadas em sua maioria com tinta spray nas superfícies dos trajetos percorridos em seu próprio cotidiano na cidade de Fortaleza, a autora questiona como o íntimo e as emoções podem se manifestar na esfera pública. A pesquisa chama a atenção em particular para a recorrência de palavras e frases que aparentam fugir às classificações costumeiras das artes de rua e possibilitam ler emoções e intimidades nas entrelinhas do espaço da rua. Se uma cidade pode narrar sobre si mesma a partir das imagens que povoam suas superfícies, o que enunciações visuais contam de Fortaleza? Estas e outras perguntas mobilizaram a pesquisa, e, mais do que o ímpeto de decifrá-las, este texto busca narrar encontros com palavras e imagens públicas e urbanas, além de recorrer à deambulação como método de pesquisa. Para a autora, essas narrativas desnudam a cidade, e Fortaleza deixa-se a conhecer não do alto ou de cima, mas a partir do chão da rua, da perspectiva do que faz a cidade.
O Perfume Azul - Rock e transgressão em Fortaleza nos anos 70 propõe a abordagem de ruptura demarcada na cena musical cearense, notadamente com a turma do rock, evidenciada com o surgimento da performance do grupo Perfume Azul, liderado pelo cantor e compositor Lúcio Ricardo e pelo músico, compositor e artista visual Siegbert Franklin, com a participação da autora do projeto, Mona Gadelha, cantora e compositora, formando uma tríade que atuou na segunda metade da década de 70 em Fortaleza. Para analisar esse recorte, os conceitos de indústria cultural, performance e contracultura, Mona toma como base obras de Theodor Adorno, Walter Benjamin, Howard Becker, Marvin Carlson, Simon Reynolds, assim como leituras de Roberto Mugzrgiati, Sheyla Diniz e Gilmar de Carvalho.
Fernanda Rocha pretende com este trabalho contribuir para o exercício projetual do arquiteto e urbanista através da sistematização de abordagens de um conjunto de jardins residenciais de Roberto Burle Marx, na cidade de Fortaleza. A autora parte da elaboração de um panorama da formação do arquiteto e urbanista no Brasil e contextualiza a atuação do paisagista Roberto Burle Marx no país, que se constitui um diferencial nesta seara, em âmbito mundial. Ao Identificar a lacuna existente nos estudos da obra de Burle Marx, no que se refere ao enfoque específico de seus jardins residenciais, particularmente aqueles de caráter urbano, Fernanda ressalta que se sobressai, de modo significativo, o conjunto dos projetos do paisagista em Fortaleza, visto que se implantaram na cidade cinco de seus jardins privados, três unifamiliares e dois multifamiliares, com características diferenciadas em relação ao contexto urbano e sociocultural. Tais jardins se constituem importante fonte de pesquisa e estudo para o paisagismo e para a arquitetura e urbanismo no contexto de Fortaleza, onde, através da chegada do paisagista, pelas mãos do arquiteto Acácio Gil Borsoi, inaugura-se o tratamento dos jardins modernos na cidade, e se estabelece uma trajetória orientada por diferentes momentos da sua urbanização.
O programa Conexões Periféricas, tema central deste trabalho, é resultado de uma parceria entre o Centro Urbano de Arte, Cultura, Ciência e Esporte (Instituto Cuca) e a TV Ceará (TVC), que tem o intuito de formar um grupo de jovens para produzir material audiovisual, na elaboração de episódios de uma série exibida no canal de televisão local. Viabilizado por meio de edital público, o Conexões propicia a experiência dos processos e rotinas de produção voltados para o audiovisual, com foco na produção de TV. Assim, os jovens participantes vivenciam diversas etapas da elaboração de um programa televisivo, desde seu planejamento até sua gravação e finalização. Com a pesquisa que originou este livro, George Torres procurou compreender se, e como, o direito à comunicação foi exercido na produção da 4º temporada do programa Conexões Periféricas. Nesse processo, foram aspectos considerados: as reuniões de pauta, os encontros de gravação e as interações nos grupos do WhatsApp. A ida a campo ocorreu de setembro de 2018 a abril de 2019, e implicou a presença ativa em todo o processo formativo, ajudando a construir os roteiros, acompanhando as gravações e auxiliando em todo o planejamento do programa.
O riacho Pajeú, recurso hídrico de fundamental importância histórica e ambiental para a cidade de Fortaleza, é aqui apresentado por Ana Cecília de Andrade Teixeira a partir da área das Artes e da compreensão desse lugar como um campo potente para problematização e atuação simbólica. Nessa perspectiva, duas questões pertinentes são apresentadas pela autora, no trabalho que desenvolve: 1. Como apropriar-se das possibilidades de ampliação da realidade criadas pelas mídias locativas, para discutir-se o apagamento no contexto específico do riacho Pajeú. Ou, ainda, como — pela adição de camadas — é possível falar da subtração do espaço (?) 2. Como somar as virtualidades desses dispositivos às virtualidades do espaço para construir um Parque ampliado do Pajeú (?) Por essas vertentes, navega Ana Cecília, que, tendo o site-specific como método, investiga condições possíveis de apropriação pela Arte das chamadas práticas Locative media para gerar um espaço desviante no contexto específico do riacho Pajeú como espaço ampliado.
A tese defendida por Vanusa Benicio Lopes em seu doutorado, da qual este livro surge, buscou cartografar as práticas de mediação de leitura promovidas pelo Programa de Extensão Viva a Palavra, vinculado à Universidade Estadual do Ceará, e pelas Bibliotecas Comunitárias e Livres da periferia de Fortaleza. Vanusa discute mediação de leitura, bibliotecas comunitárias, letramento literário e círculos de leitura, letramentos sociais, letramentos de reexistência e processos emancipatórios, a partir da Pragmática Cultural, que adota a perspectiva de linguagem como forma de vida, e propõe uma pesquisa socialmente situada e interventiva, que reflita sobre a responsabilidade do linguista e a relevância dos trabalhos que desenvolve para a superação das desigualdades.
Este trabalho problematiza a história da articulação entre corpo, natureza, memória e cultura na praia do Titanzinho, litoral leste de Fortaleza. O recorte estabelecido situa-se, principalmente, nas décadas de 1960 a 2010. A praia do Titanzinho, tradicional região de pesca, ficou internacionalmente conhecida nos anos 1970 pela prática do surfe. Nos anos 1990, porém, fatores como o crescimento demográfico acelerado e o surto da criminalidade proporcionaram o fim dos eventos esportivos, e a localidade passou a ser estigmatizada na cidade. Mais recentemente, com a abertura de escolinhas de surfe e, principalmente, com a emergência de jovens campeões nativos, modificaram-se diversos aspectos importantes na vivência local. com base na oralidade, revistas especializadas em surfe, documentos oriundos das associações de moradores e outras fontes de pesquisa, questiona-se a formação da comunidade, sugerindo o surgimento do surfe como prática corporal que emerge dos novos desejos e sensibilidades em relação à natureza.
Estante Ceará, em 2018:
O projeto Estante Ceará já editou dois títulos na área de arquitetura, Arquitetura como Extensão do Sertão – Casa de fazenda setecentista e oitocentista dos Inhamuns no Ceará – de autoria de Clóvis Ramiro Jucá Neto e Adelaide Maria Gonçalves Pereira e Fortaleza em perspectiva histórica: poder público e iniciativa privada na apropriação e produção material da cidade (1810-1933) – de autoria de Margarida Júlia Farias de Salles Andrade. Os livros compunham o banco de títulos que a Fundação mantém para projetos editoriais e reforçam a linha mestra editorial da instituição, na medida em que atendem a uma expectativa de pesquisadores na área. Os autores – pesquisadores – professores doutores da Universidade Federal do Ceará, produziram o conteúdo das obras a partir de pesquisas acadêmicas, cabedal de conhecimentos já adquiridos devido a suas expertises e um amplo histórico de pesquisa na área.
Arquitetura Como
Extensão do Sertão
ARQUITETURA COMO EXTENSÃO DO SERTÃO
Casa de fazenda setecentista e oitocentista dos Inhamuns no Ceará – de autoria de Clóvis Ramiro Jucá Neto e Adelaide Maria Gonçalves Pereira – reconhece a importância da arquitetura da casa de fazenda de gado no processo de ocupação e fixação do território cearense. A arquitetura revela-se como síntese social da ocupação do sertão. A atividade da pecuária atribuiu sentido e conteúdo à capitania do Ceará durante o século XVIII. No século XIX, associada à agricultura, a atividade econômica persistiu conferindo forma ao território.
Em torno da casa sede, a grande maioria dos povoados se organizou. No século XIX, a fazenda ligada à atividade da agropecuária permaneceu como núcleo da ocupação do território. Além do papel social da fazenda na ocupação territorial – sede da sesmaria, da unidade familiar, do poder político, do papel de defesa e vetor de atração – o livro analisa o espaço da casa, sua morfologia, as técnicas construtivas e os materiais usados. Distingue a sobriedade, a extrema simplicidade estética e construtiva, como traço comum que une a arquitetura, constituindo-se valiosa contribuição para História da Arquitetura, para História Material, para a História Social dos primórdios da ocupação do sertão do Nordeste.
FORTALEZA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA:
Poder público e iniciativa privada na apropriação e produção material da cidade (1810-1933)
De autoria de Margarida Júlia Farias de Salles Andrade – investiga as transformações urbanísticas ocorridas em Fortaleza entre 1810 e 1933, examinando as ações do poder público e o papel da iniciativa privada na apropriação e produção material da cidade, com foco no espaço intra-urbano, na sua tessitura e nos atores envolvidos. À luz da história da urbanização, entendida como um processo social em suas diferentes escalas (local, regional, nacional e internacional), trata, na longa duração, as permanências e momentos de inflexão. Pretende contribuir ao experimentar novas possibilidades de interpretação da história do urbanismo com base na espacialização e sobreposição de fontes primárias de naturezas diversas – plantas, planos de expansão, códigos de posturas, censos, décimas urbanas, etc – com vistas a interpretar a dinâmica de transformação da cidade em diferentes momentos. Um estudo extremamente minucioso e ímpar.
Desde 1983 apoiando a Produção Artística e Cultural do Estado do Ceará
Rua Júlia Vasconcelos, 100
Pio XII – Fortaleza, CE
CEP.: 60120-320
Telefone: (85) 3257-6927
E-mail: [email protected]
Desde 1983 apoiando a Produção Artística e Cultural do Estado do Ceará
Rua Júlia Vasconcelos, 100
Pio XII – Fortaleza, CE
CEP.: 60120-320
Telefone: (85) 3257-6927
E-mail: [email protected]