O Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão, que faz parte da Coleção Obras Raras, publicada pela Fundação Waldemar Alcântara em 2011, agora está disponível para download no Portal FWA.
A obra reúne os manuscritos do Diário do naturalista fluminense Francisco Freire Alemão (1797-1874). Freire Alemão estava à frente da Expedição Científica criada em 1856, por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com beneplácito do imperador Pedro II, durante os trabalhos em território cearense.
“Conhecer em detalhe a geografia, os recursos naturais e as populações espargidas nas fímbrias do território brasileiro” era a intenção da Expedição, tal está dito explicitamente na página 12 da publicação que estamos tratando. E isso tudo começa aqui no Ceará.
O ineditismo da publicação, organizada pelos professores da Universidade Federal do Ceará, Antônio Luiz Macêdo e Silva Filho, Francisco Régis Lopes Ramos e Kênia Sousa Rios, se dá porque até então não fora reunido o Diário completo. É o que esclarece a nota da página 13:
“Juntamente com outros pesquisadores, nosso trabalho teve inicio em 2003, quando o Museu do Ceará, subordinado à Secretaria da Cultura do Estado, abrigou o projeto Comissão Científica de Exploração. Foram publicados quatro livros contendo documentos históricos. Os volumes 3 e 4 davam início à publicação do Diário de Viagem de Francisco Freire Alemão. Como o projeto foi interrompido em 2007, metade do manuscrito não foi editada. O presente livro, que contém o Diário completo, representa, portanto, o fechamento deste trabalho.”
Sobre o Diário, o Portal conversou com Karoline Viana Teixeira, jornalista, doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) com a tese A Seiva e o Traço: configurações da memória na escrita do diário de viagem do botânico Francisco Freire Alemão (1859-1861). Ela nos conta o que a motivou aprofundar-se nos escritos de Freire Alemão:
“A forma como ele tratava a solidão do percurso, a incerteza em relação às intenções dos colegas e dos gabinetes imperiais, a forma como o ambiente o afetava fisicamente, o trato com os cearenses, que viam como estrangeiros aquelas pessoas chegadas da Corte, com instrumentos de precisão e outros apetrechos que mais pareciam ‘arte do demônio’… muitas coisas que certamente teriam sido expurgadas, caso esse diário tivesse sido publicado no século XIX. Foi quando eu percebi que estava diante de uma forma muito específica de apreender o tempo, de construir uma determinada memória a partir de um registro diarístico que, ao mesmo tempo, não era apenas pessoal: fazia parte do trabalho como naturalista, como presidente da Comissão Científica. E eu quis aprofundar isso no doutorado”, conclui.
Karoline relembra como foi seu primeiro contato com o trabalho do naturalista: “Quando eu trabalhava em redação de jornal, a questão de datas e efemérides tinha muita importância. E o meu marido, que é historiador, lembrou que em 2009 seriam os 150 anos da passagem da Comissão Científica de Exploração pelo Ceará. O Museu do Ceará, à época em que dr. Lúcio Alcântara era governador, havia publicado uma parte do Diário do Freire Alemão. E eu fiquei encantada pelo texto, as observações de um naturalista que, em meados do século XIX, ainda procurava dar conta dos fenômenos da natureza e das gentes, num tempo em que a separação do saber em disciplinas estava a pleno vapor. Como a Comissão era um assunto pouco estudado, fora o estudo do professor Renato Braga, o Diário foi uma fonte essencial para que eu pudesse fazer a série de reportagens. Posteriormente, em 2011, quando a Fundação Waldemar Alcântara decidiu publicar a versão integral do Diário de Viagem do Freire Alemão, eu fui chamada para fazer a revisão e a atualização ortográfica. E foi quando Freire Alemão me capturou de vez.”
A iniciativa de disponibilizar a Coleção Obras Raras para download, que, além do Diário, é composta dos títulos O Ceará (de autoria de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho ) e do Boletim de Antropologia ( organizado por Thomaz Pompeu Sobrinho) dá continuidade ao projeto Portal FWA, e ratifica o propósito da Fundação em fomentar a construção de uma memória histórica e bibliográfica do estado do Ceará.
O lançamento da Coleção aconteceu no dia 29 de setembro de 2011 e contou com a parceria do Banco do Nordeste/Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE). Para a professora e pesquisadora, Lorelai Kury, que esteve presente proferindo a palestra 150 anos da Comissão Científica do Império, “a Coleção Obras Raras lançada pela Fundação Waldemar Alcântara é fundamental para aqueles que desejam se aprofundar no conhecimento da história do Ceará e do Brasil. Escolhidos com critério e cuidadosamente editados, os livros da coleção estão sempre ao alcance na minha biblioteca”, revela a historiadora.
Para visualizar todos os títulos digitalizados clique em https://www.fwa.org.br/publicacoes/.
Agradecimento:
Karoline Viana Teixeira
Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em História Social (2008) e graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo (2004) pela mesma Instituição. Tem experiência nas áreas de Comunicação e História. Trabalha com os seguintes temas: cinema, nazismo, memória, comunicação de massas e relato de viagem.