RESUMO DOS TRABALHOS SELECIONADOS NO EDITAL ESTANTE CEARÁ 2020

A CARISMÁTICA CONSTITUIÇÃO DE UMA AUTORIDADE RACIONAL: UM ESTUDO SOBRE A COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM

Área de conhecimento: Sociologia
Autor: Emanuel Freitas da Silva

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: O trabalho de Tese intitulado “A carismática constituição de uma autoridade racional: um estudo sobre a Comunidade Católica Shalom”, produto de pesquisa doutoral realizada no programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, constitui-se como um estudo de caso sobre uma comunidade do catolicismo carismático sediada em Fortaleza. Mais do que isso: uma comunidade que reconfigurou a face do catolicismo em geral, e do carismatismo em particular, a partir da sua atuação na cidade de Fortaleza. Exatamente por isso, como se poderá ver pela leitura do texto, a tese se constitui como uma importante historiografia, a apesar de se tratar de uma sociologia no campo da religião, acerca do catolicismo na cidade de Fortaleza entre o final dos anos de 1970 e começo dos anos 2000. Para a produção do texto foi necessário pesquisar, a partir de fontes orais e documentais, o cenário socioeclesial que permitiu o surgimento da renovação carismática na cidade de Fortaleza, reconstituindo e compreendendo a atuação de jovens, desde a Pastoral da Juventude até à fundação da Comunidade Católica Shalom. Por meio de entrevistas, visitas de campo, análise de documentos (incluindo acervo jornalístico) se procurou compreender as condições de possibilidade, em Fortaleza, de uma das mais importantes comunidades do catolicismo carismático, bem como sua expansão para diversos lugares do mundo. Tendo como marco inicial a visita do então Papa João Paulo II à cidade de Fortaleza, em 1980, e os desdobramentos destas, sobretudo a partir da constituição de uma lanchonete para atender jovens católicos e não-católicos que cursavam universidade naqueles anos, a Comunidade Shalom hegemonizou, por muito tempo, a cena católica na cidade, passando a figurar como importante métrica das ações de outras comunidades na cidade e para além dela. Seus eventos passaram a compor a agenda de eventos religiosos da cidade: Renascer (durante o carnaval), Fórum Carismático (novembro), Haleluya (julho), Feira da Providência (dezembro), Arraiá da Paz (julho), Reveillon da Paz (dezembro), dentre outros, como se poderá ver no texto.

A CENTRALIDADE DA ALDEOTA COMO EXPRESSÃO DA DINÂMICA INTRA-URBANA DE FORTALEZA

Área de conhecimento: Arquitetura
Autora: Beatriz Helena Nogueira Diógenes

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: O bairro da Aldeota, zona residencial da classe abastada de Fortaleza, transformou-se nas últimas décadas em uma área de centralidade de expressiva relevância na metrópole fortalezense. Mudanças na forma de usar e ocupar o espaço, com o surgimento de novas funções, além das modificações nos modos de habitar, levaram a uma intensa alteração na fisionomia do bairro. A pesquisa tem como objetivo principal estudar a constituição e consolidação desta centralidade, envolvendo os fatores que contribuíram para sua formação. Examina e analisa as transformações relevantes ocorridas na estruturação do espaço urbano do bairro, num exercício de investigação sobre a dinâmica intraurbana de Fortaleza. Nesse sentido, o trabalho busca identificar os principais fatores que provocaram o surgimento desse novo centro na metrópole, levando em conta a situação inicial do bairro como zona residencial de alta renda. Trata, portanto, de aspectos históricos relativos ao seu surgimento e evolução desde as décadas iniciais do século XX, assim como sua consolidação como bairro elegante da cidade de Fortaleza, até meados da década de 1970. Em seguida, analisa o processo de desenvolvimento do bairro, ao se transformar em área residencial verticalizada e de localização de comércio e serviços oferecidos a uma elite abastada, desde aquele período até os dias atuais. Paralelamente, o estudo também investiga as formas de inter-relação desse centro com o crescimento geral da metrópole, com o objetivo de compreender e averiguar as mudanças provocadas na dinâmica interna de Fortaleza. O trabalho analisa ainda a questão da centralidade da Aldeota com base nos referenciais teóricos investigados, com o intuito de compreender e conceituar a natureza da centralidade desenvolvida no bairro, tido como um espaço significativo e diferenciado no contexto da Cidade, com características próprias, adquirindo forma particular de desenvolvimento e expansão. A centralidade formada no bairro da Aldeota constitui, portanto, uma questão urbana de atual relevância, sobretudo por traduzir as especificidades do processo de produção urbana ocorrido na metrópole fortalezense. A pesquisa empreendida buscou trazer como contribuição o entendimento da estruturação da centralidade do bairro da Aldeota, baseado na reflexão sobre parte da dinâmica do espaço intraurbano de Fortaleza. A relevância do trabalho se justifica ainda pela escassez de pesquisas relacionadas ao tema do crescimento urbano da metrópole cearense. A investigação detalhada do processo preocupou-se, pois, em examinar e analisar as transformações relevantes ocorridas na estruturação do espaço urbano fortalezense, ainda não devidamente avaliadas até então.

AS MUDANÇAS DE USOS DA PRAÇA CLÓVIS BEVILÁQUA: DO PONTO DO CHAFARIZ ÀS ÁGUAS DA INTELECTUALIDADE. FORTALEZA-CE, 1888-1943

Área de conhecimento: História
Autor: José Maria Almeida Neto

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: A presente dissertação é fruto de um projeto de pesquisa desenvolvido ao longo de 2 anos no mestrado acadêmico em História Social na Universidade Federal do Ceará. Nesse trabalho, procuro estabelecer a dinâmica dos usos dos espaços públicos da cidade de Fortaleza e utilizo com o objeto de pesquisa uma praça significativamente importante para a capital cearense em diferentes conjunturas. Apresento portanto as relações históricas que envolvem os usos dos espaços da Praça Clóvis Beviláqua no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, período de profundas transformações e ressignificações desse espaço para os fortalezenses. Busco cartografar não apenas as delimitações físicas da deste espaço público, vou além, tenho como objetivo apresentar as múltiplas formas que temos de nos relacionar com o bem público. Sobretudo, esse é um trabalho que mostra a cidade de Fortaleza e suas várias histórias. Esta praça é ponto de referência fundamental para quem se desloca para o Centro de Fortaleza. Conhecida por sua antiga toponímica, Praça da Bandeira, esse logradouro é um ótimo exemplo para entendermos as relações dos habitantes com sua cidade. Ainda no século XIX, essa praça era conhecida como Praça Visconde de Pelotas, nela estabeleceram-se nas primeiras décadas do século XX duas estruturas que permanecem vivas na memória do fortalezense: as caixas da água (1926) e o prédio da Faculdade de Direito (1938), mas não somente, nesse período identifiquei a praça como espaço para apresentações circenses, ponto de passagem do bonde, campo de futebol para final do Campeonato Cearense, tudo acontecendo ali, no meio da Praça. Esse trabalho, portanto, busca equacionar a historicidade desse espaço público e reconhecer as diferentes ações humanas ao longo do tempo na construção da cidade. Destaco ainda a importância para o patrimônio material da cidade, a salvaguarda dos espaços públicos e os usos políticos desses lugares, estas são questões que perpassam toda a escrita da dissertação. Por fim, é uma leitura para quem é apaixonado por Fortaleza e gosta de ler sobre a cidade, sobre as praças, os bondes, as ruas, os projetos que tornaram Fortaleza a atual cidade que conhecemos.

BIOGRAFICIDADE: A ARTE URBANA NA FORMAÇÃO DE SI E DO ESPAÇO

Área de conhecimento: Educação
Autora: Alessandra Oliveira de Araújo

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: Esta tese tem como objetivo investigar como a arte urbana pode atuar na formação de si e dos espaços. Desenvolvo um estudo com cinco artistas urbanos da cidade de Fortaleza – Narcélio Grud, Emerson Tubarão, Gleison Luz, Leandro Alves e Rafael Limaverde – com o intuito de compreender como a produção de graffitis pelas ruas da cidade aparece como elemento biográfico em suas narrativas e como suas produções podem transformar os espaços ao serem incorporadas à paisagem urbana, compondo a ideia de “biograficidade”, desenvolvida nesta tese como uma forma de escrita que deixamos na cidade e que ela incorpora em sua narrativa. Uso os fundamentos e procedimentos da pesquisa (auto)biográfica, a partir de autores como Josso (2004), Delory-Momberger (2012a), Pineau (2006) e Ferrarotti (1988), como base metodológica e epistemológica da tese. Para a construção de dados para a análise, uso a entrevista narrativa a partir das contribuições de Jovchelovitch e Bauer (2005). Dividi o processo de análise das entrevistas em duas etapas, sendo a primeira a metodologia da “nuvem de palavras”, em que desenvolvo uma articulação teórica a partir das categorias emergentes das falas dos sujeitos. Na segunda etapa, uso a “compreensão cênica” de Marinas (2007) para analisar o contexto da entrevista, fazer uma articulação das cenas do cotidiano dos entrevistados e, por último, uma análise das imagens implícitas, esquecidas ou mesmo evitadas. Após a análise individual das entrevistas, faço uma discussão sobre graffiti a partir do “espaço entre”, categoria em que desenvolvo com base em autores como Deleuze (2006) e Samain (2012). Ao perceber que o graffiti foi um elemento recorrente em todas as falas e que existia uma diferenciação na forma como era visto pelos sujeitos da pesquisa, resolvi analisar como existe uma produção a partir da diferença, uma multiplicidade que não permite uma definição estável do graffiti e também uma conversação entre as narrativas, tanto nas suas aproximações quanto nos seus distanciamentos. Para fazer uma discussão sobre “biograficidade”, uso principalmente Jacques (2012), Certeau (1998) e Delory-Momberger (2012a), os autores e o campo possibilitam uma compreensão de que a nossa experiência possui uma forte relação com o espaço, pois mudamos e somos transformados por ele. Além disso, foi possível chegar à compreensão de que existe uma narrativa do espaço em si, visto que as marcas que deixamos no espaço podem ser articuladas e formar uma narrativa urbana.

CIDADE E MOBILIDADE URBANA EM FORTALEZA: VIOLAÇÕES DE DIREITOS NOS DESLOCAMENTOS DAS MULHERES NA LINHA DE ÔNIBUS 304

Área de conhecimento: Antropologia
Autora: Viviane de Araújo Menezes

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: Esta dissertação teve como objetivo principal analisar a mobilidade urbana das mulheres, moradoras da periferia e usuárias do sistema de transporte coletivo, na cidade de Fortaleza. Esta análise centrou-se nas particularidades que envolvem os deslocamentos das mulheres, os quais são atravessados por uma série de violações de direitos. Objetivamos analisar essa realidade a fim de elucidar a mobilidade urbana como uma problemática urbana, social e de gênero, contribuindo para ampliar os estudos sobre os deslocamentos das mulheres trabalhadoras da periferia de Fortaleza. Compreendemos que esses percursos possuem singularidades que tornam as mulheres vulneráveis à violação de direitos, interferindo no ir e vir delas, no cotidiano pela cidade. Analisar a relação intrínseca das mulheres com a cidade, especificamente seus deslocamentos, mostrou-se uma necessidade de primeira ordem, em um contexto de aprofundamento da violação de direitos que ultrapassa o espaço privado. Ao atravessar o espaço público, a vivência da mulher no urbano é permeada pelo medo, insegurança e vulnerabilidade diante de relações estruturais classistas, racistas, machistas, sexistas e misóginas. Através das análises, pudemos enxergar a urgência de pensar os estudos a respeito da questão urbana sob uma perspectiva de gênero, pois a cidade é lócus de reprodução de relações de opressão, exploração e discriminação. Assim, as mulheres vivenciam a questão urbana de forma singular, que é atravessada tanto por estruturas de poder, opressão e dominação, como por luta e resistência. A cidade é lócus de reprodução das relações sociais, portanto, no contexto de uma sociedade racista, patriarcal e capitalista, o espaço urbano também é campo de reprodução de relações de opressão, exploração, discriminação e preconceito de raça/etnia, gênero e classe, assim como de sexualidade, geração, nacionalidade, etc. As/os cidadãs/aos que habitam a cidade e que se deslocam cotidianamente em meio a um ritmo frenético de vida, não são apenas força de trabalho à serviço do capital, mas também indivíduos com raça/etnia, gênero, classe, sexualidade, religião, nacionalidade, deficiência, etc. Tais particularidades dão contornos específicos às vivências de cada um, e as mulheres, nesse contexto, possuem vivências intrínsecas às relações de poder/opressão/dominação/exploração históricas e socialmente construídas. Assim, torna-se imprescindível se debruçar sobre essa realidade, a fim de se refletir sobre as políticas públicas urbanas atravessada por perspectivas de gênero.

FORTALEZA DE AFETOS: IMAGENS E NARRATIVAS DE UMA CIDADE ENTRE MUROS

Área de conhecimento: Sociologia
Autora: Iara Denise Oliveira Silva

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: O texto, resultado de um trabalho de pesquisa desenvolvido nos últimos cinco anos, aborda a cidade de Fortaleza por outra perspectiva que não a oficial. Ou seja, a cidade não vai ser descrita pelas suas características demográficas, populacionais, urbanísticas ou pelos dados que se referem a violência, crime e outros. Fortaleza é narrada a partir das inscrições, feitas com tinta spray e outros materiais, nas superfícies da cidade e que compõem uma malha de afetos, uma espécie de livro público da cidade. Entre estas inscrições, encontram-se declarações de amor, protestos, anúncios, palavras eróticas e enunciações que escapam as classificações. Este texto tenta ser um relato amoroso dos territórios urbanos que percorri em Fortaleza: os alheios e os familiares. Em diversas situações, meu recorte de lugar ficou em perspectiva e me deparei com uma cidade pulsante, movimentada, enigmática e por isso, um desafio sedutor. Arrisco dizer que a cidade é uma obra literária inacabada e aberta: ora carta de amor, ora poema de revolta, as vezes ficção e autoajuda e nós, seus leitores, somos numerosos, diversos e muitas vezes dispersos. “Para conhecer uma cidade é preciso lê-la”, disse Paulo Leminski1 e procurei ler na escrita pública da rua o que os afetos gritam ou silenciam. Esta tese pode ser caracterizada como não convencional, pois busca trazer o clima da rua e da cidade para o texto e configura-se como uma contribuição aos estudos e escritos sobre Fortaleza.

O PERFUME AZUL, ARTÍFICE DA RUPTURA: TRANSGRESSÃO NA CENA ROCK DE FORTALEZA NOS ANOS 70

Área de conhecimento: Comunicação
Autora: Simone Mary Alexandre Gadelha

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: A vasta produção artística da cidade de Fortaleza na década de 1970 ainda prescinde de publicações que possam trazer à luz manifestações que deixaram como legado um manancial de referências e contribuições para o desenvolvimento das cenas culturais das gerações subsequentes. Foi uma época de grande riqueza e diversidade de realizações nas diversas linguagens – nas artes visuais, na literatura, dança e música, no teatro e na comunicação. Fortaleza, mesmo sob o regime da ditadura militar que se estendeu até 1985, fervilhava especialmente no campo da música. O “Pessoal do Ceará”, epíteto que o produtor paulistano Walter Silva (1933-2009) havia dado para o trio formado por Ednardo, Rodger e Teti em 1973 no lançamento do LP “Meu Corpo Minha Embalagem Todo gasto na Viagem” se expandia e incluía outros nomes como Belchior, Fagner, Fausto Nilo, Ricardo Bezerra, Augusto Pontes, Amelinha, Petrúcio Maia, Antonio Soares Brandão. A música cearense alcançou repercussão nacional e ainda em meados dos anos 1970 uma geração pós-Pessoal do Ceará surgiu com uma nova proposta, a qual o saudoso professor Gilmar de Carvalho (1949-2021) analisava como uma “ruptura”. A ruptura era a influência do rock and roll e do blues, gêneros que já haviam sido utilizados como referência pelo Pessoal do Ceará, mas que na nova geração encontrava uma adesão mais radical, com a influência assumidamente “estrangeira”, especialmente do movimento punk, surgido na Inglaterra em 1977, que além da música, alcançava também a moda. Logo, jovens músicos e compositores começaram a ocupar os espaços culturais da cidades – o Teatro da EMCETUR (atual Teatro Carlos Câmara) no Centro, Teatro São José e Teatro de Arena da Caderneta de Poupança Credimus. Chamados pelos mais atuantes produtores culturais da cidade, conhecidos como “agitadores”, Augusto Pontes (1936-2009) e Cláudio Pereira (1945-2010) de “turma do rock”, eles conquistaram um público jovem que lotava esses locais para ouvir canções inéditas. À frente dessa cena musical estavam Lúcio Ricardo e o grupo Perfume Azul, formado por ele, com o músico e artista plástico Siegbert Franklin (1957-2011), o baixista Ronald Carvalho e o baterista Milton Rodrigues. Também fazia parte dessa cena a cantora e compositora Mona Gadelha, nome artístico de Simone Gadelha, autora deste trabalho de pesquisa apresentado no PPGCOM da Universidade Federal do Ceará em 2018, e aprovado por uma notável banca formada pelos professores Gilmar de Carvalho, Elba Ramalho e Carlos Machado, este da Unicamp, também músico, sob orientação de Wellington Oliveira JR. O trabalho mergulha na cena musical de Fortaleza nos anos 70, conduzido pela pesquisa e pelas memórias da autora. É um panorama da atitude transgressora, anticonvencional sob um ambiente conservador. Esses artistas seriam os pioneiros em vários aspectos, como a valorização da performance no palco, as letras de crítica social irônicas, o convite à diversão. Como artífice da ruptura, o grupo Perfume Azul representa um momento da linha evolutiva da canção cearense, como fica demonstrado na pesquisa. Além da música, a autora aborda também um período áureo da propaganda cearense, com as relações próximas de artistas e publicitários. Apresenta também, no final, letras significativas daquele período.

OS JARDINS RESIDENCIAIS DE ROBERTO BURLE MARX EM FORTALEZA: Entre Descontinuidades e Conexões.

Área de conhecimento: Arquitetura
Autora: Fernanda Cláudia Lacerda Rocha

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: A partir da elaboração de um panorama da formação do arquiteto e urbanista no Brasil, toma-se o escopo atual dos parâmetros necessários à sua formação generalista, e foca-se na perspectiva do paisagismo como um dos três campos disciplinares desta formação, equilibradamente somado aos da arquitetura e do urbanismo. Contextualiza-se a atuação do paisagista Roberto Burle Marx no país, que se constitui um diferencial no âmbito mundial. E apresenta-se a análise específica de seus jardins residenciais em Fortaleza, abordagem ainda inédita em sua obra, especialmente em escala urbana, com o objetivo de se elaborar o estudo e identificação dos princípios utilizados pelo paisagista, com vistas à sistematização de abordagens e estratégias de fundamentação à prática projetual específica do paisagismo, tendo-se em conta a ampla e indissociável atuação do arquiteto e urbanista. Diante da lacuna existente nos estudos da obra desta figura ícone do paisagismo mundial, no que se refere ao enfoque específico de seus jardins residenciais, particularmente os de caráter urbanos, sobressai-se de modo significativo o conjunto dos projetos de Burle Marx em Fortaleza, visto que aqui se implantaram cinco de seus jardins privados, em residências unifamiliares (três residências) e multifamiliares (dois edifícios), até há pouco existentes, com maior ou menor grau de preservação e com características diferenciadas em relação ao contexto urbano e sociocultural. Tais jardins se constituem uma importante fonte de pesquisa e estudo para o paisagismo e para a arquitetura e urbanismo no âmbito da nossa cidade, onde através da chegada do paisagista, se inaugura o tratamento dos jardins modernos, através da Residência Benedito Macêdo, recentemente demolida, e se estabelece uma trajetória que se orienta por diferentes momentos da urbanização da cidade. Deste modo, espera-se contribuir através da sistematização de abordagens dos diferentes jardins residenciais de Roberto Burle Marx em Fortaleza, para o exercício projetual do arquiteto e urbanista, considerando a complexidade e diversidade de sua atuação profissional, pautando-se em uma atuação referencial de determinada época e contexto, deixando seus registros para manutenção da memória dos jardins da cidade.

OS SOBREVIVENTES: O DIREITO À COMUNICAÇÃO NA PRODUÇÃO DO PROGRAMA “CONEXÕES PERIFÉRICAS”

Área de conhecimento: Comunicação
Autor: Francisco George Costa Torres

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: Na presente dissertação, buscou-se entender se e como o direito à comunicação foi exercido produção da 4ª temporada do programa Conexões Periféricas, iniciativa do Centro Urbano de Arte, Cultura, Ciência e Esporte (Cuca), mantido pela Prefeitura de Fortaleza, que visa a formação de jovens comunicadores para a produção de um programa televisivo semanal veiculado pela TV Ceará. Neste processo, foram aspectos considerados para a pesquisa: as reuniões de pauta, os encontros de gravação e as interações nos grupos do WhatsApp. Para fundamentar as reflexões apresentadas, partimos da ideia central do direito à comunicação, em diálogo com as questões da juventude. A proposta metodológica da pesquisa é a etnografia, utilizando a observação participante. A ida a campo ocorreu de setembro de 2018 a abril de 2019, e implicou a presença ativa em todo processo formativo, ajudando a construir os roteiros, acompanhando as gravações e auxiliando em todo o planejamento do programa. Foram considerados também documentos normativos do Centro e falas de gestores durante eventos públicos. Nos cerca de oito meses em campo, foram observadas questões envolvendo o fluxo dos jovens na cidade de Fortaleza e como esses movimentos influenciavam diretamente a forma como eles viam a cidade e como produziam comunicação, relacionando com as cobranças e expectativas dos professores e gestores dos Centros. Observou-se que o direito à comunicação foi, em diversos momentos, negligenciado na formação e produção do programa, através do cerceamento da autonomia dos jovens, as inúmeras censuras e falta de transparência no repasse das informações. Esses fatores foram cruciais no desenrolar de todo o processo, atrasando, inclusive, o ritmo de produção do “Conexões” e atuando de modo a desmotivar os jovens ao longo do projeto. A pesquisa é relevante para a área da comunicação por analisar um projeto voltado a formação de jovens comunicadores na periferia da cidade, fazendo um contraste entre o que o projeto se propunha a fazer e o que realmente ocorreu durante toda a sua formação. Além disso, a pesquisa se insere no contexto de avaliação de política pública, entendendo o Cuca como uma política implementada para a juventude da periferia da cidade e, como qualquer ação, precisa ser analisada e refletida amplamente.

PARQUE AMPLIADO DO PAJEÚ: UMA ABORDAGEM SITE-SPECIFIC COM USO DE LOCATIVE MEDIA

Área de conhecimento: Cultura
Autora: Ana Cecília de Andrade Teixeira

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: O Riacho Pajeú é um recurso hídrico de fundamental importância histórica e ambiental para a cidade de Fortaleza que vem sendo apagado do espaço físico e simbólico. Na pesquisa de mestrado exploramos as possibilidades das mídias locativas digitais (dispositivos móveis de comunicação associadas a tecnologias de localização) como ferramentas de hiperlinkagem entre espaço físico e ciberespaço no contexto específico do riacho Pajeú. Com um mergulho profundo em acervos de documentos textuais e cartográficos que tratam da relação entre a cidade e o Pajeú ao longo de séculos, a pesquisa discorre sobre as dimensões e os dispositivos do apagamento desse riacho. O apagamento é concebido como uma violência ativa e programada à memória, diferenciando-se do esquecimento pela intencionalidade do ato e pela destruição dos rastros que permitem rememorar. Realizando uma apropriação da concepção de espaço de Lefevbre (2006), o apagamento do riacho é compreendido segundo duas dimensões interdependentes, a física e a simbólica, sendo a última composta por: apagamento dos espaços de representação e apagamento das representações do espaço, com destaque para o papel dos mapas na produção desse apagamento. A partir de Foucault (2008) e Harley (2009) compreende-se a produção de conhecimento e, especificamente, da cartografia como submetida às tensões econômicas e políticas, pois é essencial para a produção econômica e para o exercício do poder político, portanto portadora de uma falsa neutralidade. Concordando com Milton Santos (2008), que considera que os espaços urbanos atuais se constituem também das “novas redes telemáticas” que o atravessam e preenchem, compreendemos que o espaço informacional (Lemos, 2007) tem o potencial de ampliar o espaço. Diante do apagamento e das possibilidades atuais de ampliação do espaço, questionamos: Como discutir o apagamento no contexto específico do riacho Pajeú utilizando as potencialidades de ampliação da realidade criadas pelas mídias locativas? Como somar as virtualidades desses dispositivos às virtualidades do espaço para construir um Parque ampliado do Pajeú? Objetivamos investigar as apropriações pelas Artes das chamadas práticas locative media para produzir um espaço na contramão da agenda dominante, no contexto do riacho Pajeú. Buscamos também colaborar para a discussão sobre a produção social do espaço a partir deste contexto específico; tensionar a imagem mapa; ampliar a discussão sobre uma arte de caminhar como forma de apropriação simbólica, escritura e leitura da cidade. Para Miranda (2007), trabalhos de locative media, geralmente produtores de mapeamento, suscitariam o neocartesianismo, abandonando uma longa crítica à representação cartográfica; Holmes (2006) aponta a integração dessas proposições como a infraestrutura imperial; e Hemment (2010) associa tais práticas com uma palatabilização de uma tecnologia de controle alinhada à agenda neoconservadora. Por outro lado, essas ações têm a potência de gerar engajamento e promover novas formas de participação pública. Inversamente às formas de socialização na web e da realidade virtual, ou às experiências de imersão em geral, as experiências com locative media, ao gerar interação social pela articulação entre os meios computacionais móveis e os territórios geográficos, colaborariam com a apropriação e ressignificação dos lugares e a produção de memórias de “baixo para cima” (Santaella, 2008), possibilitando uma nova consciência da localização e a democratização da produção cartográfica como fator de redistribuição do poder. Como resultado, são desenvolvidas algumas proposições artísticas, dentre elas “Excursão Pajeú”, uma experimentação que utiliza uma aplicativo na forma de áudio-guia que adiciona camadas de informação ao espaço físico do riacho Pajeú utilizando uma base do GoogleMaps: o deslocamento do participante dispara uma voz maquinal que apresenta documentos do passado, do presente e projetos para um possível futuro, e com eles, os discursos hegemônicos. O app convida a caminhar, ver, ouvir e viver o espaço e encontrar o que não está no mapa: o riacho, mas também, e entre outras coisas, as forças que atuaram e atuam na sua produção.

PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE LEITURAS NA PERIFERIA DE FORTALEZA: CARTOGRAFIAS DO PROGRAMA VIVA A PALAVRA E DE BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS DE INICIATIVA POPULAR

Área de conhecimento: Educação
Autora: Vanusa Benício Lopes

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: Esta tese de doutorado buscou cartografar as práticas de mediação de leitura promovidas pelo Programa de Extensão Viva a Palavra e pelas Bibliotecas Comunitárias e Livres da periferia de Fortaleza, para perceber de que maneira essas práticas contribuem para a formação leitora crítica dos jovens que residem em bairros periféricos, como fortalecem o letramento literário e como esses letramentos se constituem letramentos de reexistência. O Viva a Palavra, como programa de extensão vinculado à Universidade Estadual do Ceará, objetiva entender como o domínio do uso social da linguagem, por meio da literatura e de outras artes, pode contribuir para a atuação de sujeitos críticos e para o enfrentamento ao extermínio da juventude pobre e negra das periferias (ALENCAR, 2014). As Bibliotecas Comunitárias de iniciativa popular atuam na perspectiva de que a Literatura é um direito de todos (CÂNDIDO, 2004), promovendo diversas ações e práticas educativas, artísticas e sociais para garantir o acesso aos bens culturais e a transformação da realidade dos bairros periféricos. No que diz respeito ao referencial teórico, discutimos mediação de leitura (BARBOSA, 2015), bibliotecas comunitárias (CAVALCANTE, 2014), letramento literário e círculos de leitura (COSSON 2014, 2016), letramentos sociais (STREET, 2014), letramentos de reexistência (SOUZA, 2011) e processos emancipatórios (FREIRE, 2011), a partir da Pragmática Cultural (ALENCAR, 2014, 2015), que adota a perspectiva de linguagem como forma de vida (WITTGENSTEIN, 1989) e propõe uma pesquisa socialmente situada e interventiva, que reflita sobre a responsabilidade do linguista e da relevância dos trabalhos que desenvolve para a superação das desigualdades (ALENCAR, 2015; RAJAGOPALAN, 1996). Como metodologia, utilizamos a cartografia, que consiste em acompanhar os processos e não os produtos (PASSOS, KASTRUP; TEDESCO, 2014). Como resultados, observamos que as crianças e os jovens que participam das práticas de mediação de leitura promovidas pelo Programa Viva a Palavra e pelas Bibliotecas Comunitárias e Livres de Fortaleza, não apenas observam os aspectos linguísticos, textuais, como também se engajam aos aspectos de ordem social, cultural e política que atravessam essas leituras. Nesse sentido, percebemos que essas práticas de leitura podem contribuir, tanto para a formação leitora crítica desses sujeitos, quanto para a geração de formas de resistência e promoção de processos emancipatórios (FREIRE, 2011), o que se configura como um modo de transformação social.

SURFANDO NAS ONDAS DO TITANZINHO: CORPO, MEMÓRIA, NATUREZA E CULTURA EM FORTALEZA (1960-2010)

Área de conhecimento: História
Autor: André Aguiar Nogueira

DESCRIÇÃO SUCINTA DA TEMÁTICA DO ORIGINAL: A pesquisa foi realizada no campo da História Social e visa analisar a articulação de temáticas emergentes na historiografia e nas Ciências Humanas de modo geral. Aborda aspectos relacionados aos estudos do corpo, da natureza, dos esportes, da memória social e da cultura. O texto realiza uma reconstituição das práticas sociais, dos usos simbólicos, dos costumes e das sensibilidades produzidas no litoral de Fortaleza, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Trata-se de uma análise histórica e antropológica da prática do surfe na Praia do Titanzinho, na comunidade Serviluz, na ponta leste do litoral de Fortaleza. O recorte estabelecido situa-se, principalmente, nas décadas de 1960 a 2010 quando observamos uma profunda mudança na paisagem urbana da capital cearense. Esse cenário de urbanização e industrialização, ocorreu em meio a remoção de categorias de trabalhadores para as proximidades do Farol do Mucuripe. Nesse processo, modificaram-se profundamente as características físicas e culturais do litoral, possibilitando, entre outras experiências, a emergência da prática do surfe na Praia do Titanzinho. Documentos do Poder Público, jornais, revistas especializadas, atas, cordéis, manifestos, músicas e outros documentos das associações de moradores e escolinhas de surfe, sites de internet, fontes iconográficas e, principalmente, as narrativas orais foram utilizados na pesquisa. Aborda, portanto, algumas das transformações culturais recentes em Fortaleza, sugerindo a emergência do surfe como prática corporal que emerge dos novos desejos e sensibilidades em relação à natureza.